Sensação de abandono
| Em mar04,2008Acredito que todos, em determinados momentos, já sentiram isso que chamo de “sensação de abandono”. Na verdade, melhor seria dizer “sentimento de separatividade”, quase como aquilo que uma criança sente quando se vê afastada do calor materno. A forma mais comum de mergulhar neste estado é quando nos prostramos – humilde e reverentemente, de corpo e alma -, diante de algo superior (Deus Pai e Mãe, Jesus, krishna, Buda etc., ou mesmo frente à Mãe Natureza, Sol ou Terra). Este estado se potencializa quando ouvimos algum tipo de música devocional ou, até mesmo diante das sublimes imagens e sons daTerra.
As práticas, as ritualísticas devocionais de muitas das religiões, com cânticos e louvores dirigidos ao sagrado trazem à tona, quase sempre, este sentimento de separatividade ou sensação de abandono, pois somos levados a nos ligar ao coração. E o coração é a porta de entrada para os ditos planos superiores de consciência.
Em determinada época de nossa existência fizemos um mergulho para esse estado humano de vigília que, de alguma forma, dividiu a nossa consciência em duas partes – a consciência de unidade (que a perdemos) e a consciência de separatividade (na qual vivemos agora). Vivíamos em unidade com o Criador – como explica a simbologia de Adão e Eva no paraíso. Em determinado momento, como eles, fomos “expulsos deste paraíso” e passamos a viver uma vida de separatividade – de positivo e negativo, de dor e prazer, de nascer e morrer. Perdemos, por assim dizer, o status de Filhos de Deus, a consciência de unidade com o Pai (como dizia Jesus e muitos outros Orientadores Maiores).
Em contrapartida, conforme relatos de inúmeras tradições, esta “queda” do Ser Original (monopolar), que na realidade transitória (terrena) se apresenta polarizado (masculino e feminino – equivalendo ao posterior reconhecimento da nudez por parte do Homem no paraíso), existe algo de muito valoroso, por assim dizer, maravilhoso. Numa existência Original éramos como Anjos (inconscientes de nossa Unidade com o Absoluto). Agora, a partir do plano terreno, onde impera as Leis da dualidade, da separatividade, temos a oportunidade de resgatar – pelo esforço próprio – a consciência de unidade com o Todo.
Isso é o que se espera do Homem – que desperte deste sono adâmico e que (re)adquira a consciência de quem ele É e de quem todos São. Somos todos raios desse “Sol” Central – a Suprema Inteligência Amorosa – o Absoluto. É sobre isso que se refere a passagem bíblica do “Filho pródigo: Aquele que retorna à casa do Pai”. Esta é a possibilidade que se abre para todos aqueles que – insatisfeitos com a realidade imaginária – ousarem transcender aos domínios do ego!
Amir El Aouar