Espiritualizando a matéria
| Em out21,2012“Fique bem presente em suas impressões, ‘respirando com todos os sentidos’, vivenciando o presente sensorial, sensibilizando-se para o tangível. Deixe um pouco de lado a impalpável realidade onírica e penetre na força do Espírito que se revela através dos Seres e Forças da Natureza. Essa é maneira mais segura de acessar a Realidade Natural, que aos poucos se desvela diante dos olhos daqueles que decidiram encarnar.”
Queridos Amigos do Caminho,
Vejam como, até mesmo os iluminados mestres insistem em fazer distinção entre o tangível, visível e o intangível, invisível. Através desse discursos tentam justificar “loucura divina”. São muitos os que pesam assim – renomados mestres do oriente e, também, do ocidente. Essa idéia reforça aquele antigo clichê espiritualista que exalta o metafísico em detrimento do concreto.
Torno a perguntar: será que o espírito está mais no invisível do que no visível? Claro que não!!!
Assim sendo, fica claro que esse “invisível” – esse espaço além da mente – é pura projeção, criação do ego. É uma forma ingênua de negar a própria encarnação. Gurdjieff deixa bem claro que a vida que temos é a melhor Escola para o despertar… Então, porque essa insistência em negar o mundo concreto?
Importante destacar que, em conformidade com as Escolas que estudam a Metafísica, existem sim duas realidades – uma real/Natural e outra irreal/imaginária. O problema do homem não está na realidade natural (o mundo perfectível sustentado pelo Criador), mas nas projeções que faz pelo uso equivocado dos recursos mentais. O intelecto, quando abandona a função de veículo do Ser Natural (o Cristo), passa a projetar, fantasiar outras realidades. Por isso, afirmo que devemos passar a sentir com o intelecto e pensar com o coração. Fica claro que existe uma inversão nas funções dos centros – intelectual e emocional. É daí que surgem tantas distorções acerca do que é o espiritual.
Através do Processo Conexão Natural – seus princípios e práticas físicas e meditativas – podemos realizar o propósito humano de ‘espiritualizar a matéria e materializar o espírito’, afim de realizar uma única realidade natural. Quando deixo de perceber, de realizar o Espírito na concreto, através do sensorial, passo inevitavelmente a projetar (mentalmente) realidades, assim como a viver uma ego-espiritualidade.
Entendo que a forma mais segura de realização pessoal é encarnar o Espírito, que se expressa como todas a Forças e Seres da Criação.
A busca do Espírito no intangível gera a fantasia. Só se atingi o intangível espiritual a partir do tangível espiritual. Por isso é que estou introduzindo nas práticas Conexão Natural os ritos dos povos da floresta. Como bem disse uma amiga: “… os índios nos ajudam a conservar nossa pureza interior… em acreditar no belo e verdadeiro… que no “branco” não existe mais”. Acredito, porém, que esse ‘belo verdadeiro’ está perto de ser desvelado! Sim: desvelado, visto que É a realidade última (e primeira).
Compreendo que muitos contestarão as minhas colocações, que não têm a intenção de menosprezar o nobre trabalho das escolas espiritualistas que sempre me acolheram fraternalmente. Entendo que muitos ainda precisam desse deus legislador invisível que, via de regra, refreia as compulsões do ego. É assim que tem funcionado e é assim que será por muito tempo… Deixo claro que meu intento não é o de criar polêmicas inférteis, mas levar os amigos a uma reflexão sobre a via de acesso ao Ser Natural.
Considerem meus comentários, não como uma crítica aos respeitados modelos existentes, mas como mais uma possibilidade que pode ser experimentada, assim como tenho feito. Entendo que os caminhantes devem revisar os conceitos correntes sobre o que é e como atingir a iluminação. Dessa forma minimizam o risco de aprofundar o sono psicológico corrente, mergulhando numa sedutora realidade imaginária, sustentando um ’céu’, uma realização ‘espiritual’ que o ego-sabotador projetou para se perpetuar.
Amir El Aouar
“Reconheça, ame e agradeça a todos os Seres e Forças da Criação”